Moinho de São Jorge

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Reduzir grão a farinha... é esta, ainda hoje a função do moinho de água da Achadinha. A maior figura da etnografia portuguesa do século XX, Jorge Dias, num dos seus estudos (Dias, 1969) referia que na década de sessenta existiam em Portugal, cerca de 7 mil moinhos movidos a energia hidráulica. Não existem levantamentos para os dias de hoje, no entanto, reconhece-se que graças às mudanças operadas na sociedade esta prática está quase em extinção, tornando estas estruturas obsoletas. Sem atividade, os edifícios deixaram de ser cuidados e, naturalmente, muitos estão em ruínas. Não é o caso do moinho da Achadinha. A sua singularidade consiste na simbiose entre a vertente patrimonial, as tradições etnográficas e o turismo. Do ponto de vista patrimonial, existem notícias da existência desta estrutura que remontam ao século XVIII, embora não tenhamos tido acesso a documentação que o comprove. No entanto, pelos estudos comparativos que existem, o aproveitamento da força da água para moer era já uma realidade bem implantada. Neste período, apenas o trigo e centeio entravam no processo de moagem, uma vez que a implantação do milho na Madeira e freguesia de São Jorge ocorre em meados do século XIX (Silva, 1978). O edificado resulta numa estrutura de um piso, com telhado de duas águas, construído com aparelho basáltico de média dimensão, com técnica de pedra seca. Sabemos que no final do século XX, o edifício foi restaurado pela DRAC, tendo os técnicos procurado manter a integridade da arquitetura tradicional. A partir do atual edificado e do levantamento fotográfico feito no momento do restauro pode ser feito um estudo de arqueologia da arquitetura, no sentido de reconhecer as alterações praticadas no edifício ao longo dos tempos. A estrutura está adaptada à utilitas com a definição de uma zona de moagem e na zona inferior, a loja, onde se encontra a forço propulsora, o rodízio. A área de moagem conta com duas moendas, ou seja, duas zonas de moagem que são utilizadas em função do cereal a moer. Num mundo cada vez mais global, a discussão da manutenção das tradições locais é extremamente pertinente. A etnografia de salvaguarda permite registar a prática de uma cultura antes do seu eventual desaparecimento e, desta forma, resgatar os usos e costumes de realidades não muito distantes. Assim, a produção de um pequeno documentário etnográfico, apesar do amadorismo, revestiu-se de extrema importância para a memória futura, pois tem um carácter de divulgação. Relativamente à terceira premissa que lançámos no início, o turismo, o moinho da Achadinha, é reconhecidamente, uma atração turística a que muitos visitantes não conseguem resistir. A continuação da laboração do moinho permite um contacto direto, não só, com a vertente patrimonial, muitas vezes descorada, mas sobretudo com os usos e costume, quase esquecidos e resgatados ao passado, permitindo à população adquirir uma farinha, reconhecidamente, de qualidade, pois a velocidade de moagem preserva as melhores características do cereal, ao invés dos processos modernos de moagem. Se à presença de turistas ainda forem associados alguns produtos tradicionais, podemos estar em presença de um incremento na economia local. Em futuros trabalhos será essencial avançar para a investigação de documentação que ateste a vetustez do edifício e da sua função, bem como reunir informação acerca das características formais das estruturas de moagens e enquadrá-las na realidade regional e nacional.

O professor, Filipe Gonçalves

 

 

Bibliografia

Dias, Jorge; verbete, “Moinhos”, in Dicionário de História de Portugal, Porto, ed. Figueirinhas, 5a ed. 1981.

Ribeiro, João Adriano, et alli; Moinhos e Águas do Concelho de Santa Cruz, Santa Cruz, Ed, C.M. Santa Cruz, 1995.

Silva, Fernando Augusto da e Meneses, Carlos de Azevedo de, Elucidário madeirense – fac-símile da 2ª edição de 1946, Funchal, Secretaria Regional da Educação e Cultura, 1984.  

Património natural e cultural da freguesia de São Jorge

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No âmbito da disciplina de cidadania e mundo atual, em cooperação com o projeto da Biosfera, a turma do CEF promoveu um trabalho de inventário do património natural e cultural da freguesia. O desenvolvimento deste trabalho foi fundamental para que os alunos se consciencializassem, promovessem, preservassem e divulgassem o património da sua terra.

A professora, Margarida Ribeiro

 
 
 
 
       
       
 
 
 
 
Secretaria Regional de Educação